Escrito por Joelmir Beting – 29/04/08.
Acabo de chegar de Roma, onde, esta semana, se realiza o primeiro Fórum Internacional de Energia. Integrado por ministros do ramo, de 77 países, o encontro coloca pela primeira vez ao redor da mesma mesa, que de redonda não tem nada, países produtores, exportadores, importadores e consumidores de petróleo e de gás natural.
Exatamente nesta semana em que o barril de ouro bruto desfila em bolsas do ramo, as de Londres e Nova York, as maiores cotações da história, em termos reais.
Em 12 meses, o barril de petróleo negociado em Nova York disparou de US$ 70 para quase US$120, reajuste acumulado de 70%.
Para os analistas reunidos em Roma, no rodapé do Fórum, esse barril a US$ 120 pode ser assim decodificado: metade da cotação recorde, US$ 60, é obra e graça do mercado físico, regido pela severa lei da oferta e da procura. Consumo estagnado nos países desenvolvidos, mas muito atiçado nos países emergentes, liderados pelo planeta China. A outra metade dessa cotação nas nuvens é atribuída a dois fatores de peso: a desvalorização global do dólar, moeda de troca do petróleo, vulgo petrodólar, e a especulação de fundos de derivativos financeiros infiltrados nas bolsas do setor.
Esses contratos manipulavam, na semana passada, contratos a futuro de petróleo no total de US$ 278 bilhões.
É como se esses chacais do mercado primário de energia tivessem hoje em seu poder um estoque de petróleo maior que o das maiores produtoras e/ou compradoras do mundo.
Vai daí que está armado o enguiço: no empate técnico entre oferta e procura, o derretimento cambial do petrodólar e a especulação da banda tipo bolsa de futuros em que se meteu o petróleo velho de guerra.
Conclusão: barril acima de US$ 100 por tempo indeterminado. O que estimula novos lances de conservação de energia e de substituição do petróleo em escala também global.
Nesta mesma semana, o presidente Bush, oportunista, anunciou o segundo capítulo de um programa oficial de parceria do governo com as montadoras americanas para a produção de carros capazes de rodas de 25 a 35 quilômetros por litro de gasolina, a partir de 2015.
Parceria que teve, como primeiro capítulo no governo Clinton, na década passada, a abertura para a GM, a Ford e a Chrysler dos segredos tecnológicos da Nasa na engenharia dos motores e na química dos combustíveis.
Enquanto isso, o mundo retoma a discussão da contingência energética da produção de biocombustíveis, com sobras para a conveniência ecológica dessa energia verde, renovável ad infinitum.
Sem contar, na lateral, como ocorreu em Roma, o sinal verde para a ampliação desinibida do parque nuclear dentro da matriz energética global.
Em resumo: barril acima de US$ 100 enche a bola dos seus dois maiores adversários: conservação e substituição do petróleo por fontes alternativas da matriz energética e da matriz automotiva.
E assim caminha a humanidade. Ou, como se diz em Roma, cosi la nave va...
segunda-feira, 28 de abril de 2008
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